terça-feira, 1 de maio de 2018

À tua porta

Escrevo. E sou eu no papel.
Escrevo. À tua porta.
Há 50 anos que paro à porta errada. Há 50 anos que bato e abrem as portas que acabam por se encerrar sobre mim.
E os anos passaram. As portas abriram e fecharam. E a tua porta era a porta da minha casa, a última porta da rua. Única.
Já não tenho coragem de esperar nada. Já não tenho coragem de ser eu. De mim restam apenas as palavras no papel. À tua porta.
Podes queimar as folhas. Podes incinerar o que sou. Estão secas, velhas, sem a utilidade da tua pele.
Os milagres diluiram-se nas minhas mãos enquanto olhava para ti.
A magia do mundo apenas e só uma ilusão. Esquecerei o teu olhar enquanto os papéis definham trespassando  a noite.
Escrevo. À tua porta.

1 comentário:

Ana Carvalho disse...

Que lindo! Esse desencontro é a inspiração mais nobre de um poeta.