sexta-feira, 2 de maio de 2014

Passados I

Perfunctório

15 de Junho de 2011
Não sei quem és. Mas é para ti que escrevo.
Tu que prevês o nascer das manhãs com as impressões digitais únicas da vida cravadas na tua pele exaltada pelo sol.
Não sei quem és. Mas é por ti que escrevo.
Nas noites que antecedem o tumulto do silêncio e a ficção do futuro no amanhecer que vês e eu para mim invento sem sucesso ou surpresa.
Não sei quem és. Mas é de ti que escrevo.
Sentindo a dor de outras dores em óleos que pintores mortos espalharam nos campos feitos telas ao som de cores e vibrações que queriam mas nunca conseguiram entender.
Talvez te encontre nos rios sem nascente nem foz, sem margens nem correnteza.
Talvez me encontre quando já não precisar de saber de ti
e a memória do tempo já não precisar de saber de mim.

Caçador

21 de Maio de 2011
Sementes
lançadas bem alto nos céus
para que raízes pudessem dar fruto
nas nuvens mais altas.
Um desígnio recheado de memórias
viajando no âmago de estranhos mascarados
de futuros apocalípticos.
Quando nasci não me deram nome porque possa ser chamado.
Não me deram a esperança
de crescer nas tuas mãos.
Fui pelos caminhos sem glória
presa fácil do destino
disfarçado de caçador.

O verso em mim

24 de Maio de 2011
Eu não escrevo para vós
não quero saber se me lêem.
Rasgo as palavras vazias nas paredes nuas
cárcere dos meus olhos.
Que é feito do meu corpo?
Já não reluz nas madrugadas adiadas.
Que é feito dos teus lábios fechando-se sobre os meus?
Tenazes sem perdão lançadas nas paredes vazias
onde releio sem cessar os meus versos nus
mãos viajando em círculos virtuais de estranha psicose
desenhando janelas que nunca abrirão
corroídas por olhos abertos
presos no cimento frio.
Não escrevo para ninguém
nem quero saber se me lês.
Dentro de mim colo os pedaços rasgados
das palavras do poema que não sei escrever e nunca ouvirás dizer.




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