quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sobreviver


Como é que se aprende a viver depois da morte da alma?
Depois de nos terem estripado cirurgicamente as veias que nos fazem sonhar?
Viver, reviver, sobreviver?
É possível continuar a arpoar nuvens, traçar estradas na pele, descobrir horizontes?
É possível afastar este cansaço que corroí os olhos e seca os lábios?
Se já não tenho o que olhar e os lábios deixaram de ser o leito de uma corrente que nascia em ti.
Se os olhos os quero fechados olhando por dentro, para longe, e os lábios os quero selados despronunciando letras de um nome perdido.
Como se aprende a viver depois de nos terem morto?
Dão-se pés a um esquife feito de carne que deambula pelas veredas de uma cidade sem cor.
Dão-se mãos para dissecar as flores que definham fechadas dentro de mim.
Há um suave e doce odor nesta morte que emana das recordações.
E atormenta a minha sobrevivência.
De uma última dança que nunca será dançada.

Last dance - Neil Young


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