quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O Milagre da Multiplicação dos Pães Revisitado

Era um dia como outro qualquer na Galileia.
Jesus (o da Nazaré, não o de cá), estava em amena cavaqueira com os seus amigos quando reparou que a cerveja tinha acabado.

- Que chatice, e nem há jogo para ver hoje, disse Pedro.
- Mesmo que houvesse, retorquiu Mateus, o benfica não vai ganhar a liga Europa e, para mais, ainda não inventaram a televisão...
 Todos anuíram com Mateus que, mais uma vez, mostrou enorme perspicácia.
- E se fossemos dar uma volta?, alvitrou Jesus.
 - Fixe, aplaudiu Lucas, deixem-me ir só buscar o telemóvel.
- Não precisas, avisou Simão (o da Nazaré, não o do Atlético de Madrid), ainda não inventaram as operadoras de serviços móveis!
- É verdade, disse Lucas, que cabeça a minha! E, ainda rindo pelo seu disparate (não comparável aos de Pedro, o Coelho, não o da Nazaré), pegou no seu IPad, seguindo lesto atrás dos seus companheiros que já adentravam pelo deserto.
O Sol brilhava. Não se avistava um soldado romano por quilómetros em redor.
Passadas umas horas chegaram ao sopé de um monte de altura considerável. A fome já apertava, e os estômagos dos discípulos roncavam de tal maneira que assustavam todos os seres vivos naquela parcela do deserto.
- Por amor a mim, disse Jesus, peguem na maior pedra que encontrarem e subam ao alto deste monte!
Todos os discípulos pegaram em pedras pesadíssimas e começaram a subir, esfomeados e sob um sol escaldante.
Todos não. Judas, farto destas merdas de provas de amor, procurou a pedrinha mais pequena e subiu o monte sem esforço, ficando à espera dos restantes companheiros que se arrastavam penosamente encosta acima.
Quando, por fim, se encontraram todos juntos no topo do monte, Jesus reuniu-os e disse:
- Meus irmãos, em verdade vos digo, quem me ama será recompensado. As pedras que trouxeram as transformarei em pão para saciar a vossa fome!
Meu dito, meu feito. As enormes pedras carregadas por estes discípulos fidelíssimos transformaram-se em suculentos pães que, imediatamente, todos começaram a devorar.
Todos menos um. Judas, que só trouxera uma pedrinha no bolso do seu balandrau, viu-se apenas com um niquinho de pão que mal cabia na cova de um dente. Comeu, esfomeado, aquele pedacinho de pão (antes que alguma galinha do Fernando Nobre lho roubasse) por entre resmungos e amaldiçoando a sua sorte.
- São horas de regressar. O sol já se põe e a Madalena não gosta que eu ande na rambóia com os meus amigos e chegue tarde a casa - Assim falou sabiamente Jesus -, e vocês, meus amados discípulos, aprenderam hoje que os esforços em meu nome podem recompensar!
Passaram alguns dias e novamente Jesus e seus amigos foram passear no deserto.
Assim como todos os caminhos iam dar a Roma, também no deserto todos os caminhos iam dar ao sopé do mesmo monte.
- Por amor a mim, disse Jesus, peguem na maior pedra que encontrarem e subam de novo ao alto do monte!
Num "déjà vu" cheio de misticismo, todos os discípulos pegaram em pedras pesadíssimas e começaram a subir o monte, esfomeados e sob um sol escaldante
Judas, que podia ser traidor mas não era parvo, lembrando-se da fome que passara dias antes, pegou na maior pedra que encontrou.
Decorreu mais de uma hora até que conseguiu chegar, completamente extenuado, ao cimo do monte, onde já se encontravam Jesus e os demais companheiros.
Ofegante e suado, Judas sentou-se aguardando a transformação da sua enorme pedra (a maior de todas) em pão, antecipando uma lauta refeição.
Mas o tempo passava e Jesus nada fazia discutindo com Pedro a situação económica e a intervenção do FMI (fundo monetário imperial) na Galileia.
- Jesus! - interpelou Judas - Quando transformas as pedras em pão que a fome aperta e nos ensinas qualquer coisa útil?
Ouvindo isto Jesus olhou para Judas com aquele ar de... de... Jesus (não o do benfica, mas sim da Nazaré) e respondeu:
- Em verdade te digo Judas, hoje não há lição a tirar, viemos apenas curtir. Por isso trouxe sandes de queijo para todos!

RV - Abril de 2011

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