quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Futebol, exageros e indignação


A forma indignada como alguns portugueses reagiram ao anúncio da Pepsi publicado na Suécia só tem paralelo ao exagero como reagiram ao próprio jogo e à vitória de Portugal.
Como já disse algumas vezes, futebol é só um jogo. Por muito importante que seja, movimentando milhões de euros, é só um jogo. Um jogo que não é a vida ou a morte de ninguém, a não ser daqueles que podem ganhar muito com as vitórias, mas que infelizmente se tem tornado de vida ou de morte na violência das claques.
E é assim, como um jogo, um espectáculo, um divertimento, que tem de ser encarado por pessoas equilibradas, de bom-senso. 
Ninguém duvida que o Cristiano seja bom jogador, para uns o melhor do mundo, para outros entre os melhores. Mas não é deus, não é rei, não é salvador da pátria coisa nenhuma, como se lê e ouve por aí. É apenas um jogador, num jogo, e não resolve nenhum dos problemas do país. A não ser que pensem que ir ao Brasil é a solução para que os mercados, por deferência ao "rei", peçam desculpa e, subservientes a sua alteza, baixem imediatamente os juros cobrados a Portugal.
Os exageros, as reacções emocionadas são admissíveis a "quente" no "momento", na "descompressão" de uma trajectória com muitos momentos negativos e num apuramento discutido em "play-off". A continuarem, depois disso, correm o risco de nos retirar a lucidez, o discernimento e nos afastarem das questões essenciais.
Quanto à Pepsi, não é invulgar as marcas portuguesas colocarem anúncios duvidosos, e até insultuosos, para com selecções de outros países, na véspera de jogos ou de competições em que a selecção portuguesa participa.
É raro ver quem se indigne com isso e peça desculpa.
A indignação não pode resultar de uma apreciação da importância mundial da marca ou de quem age (se somos nós ou os outros contra nós). Tem de resultar do facto, da atitude. E ser adequada às situações e aos contextos.
São estas indignações exageradas, estas reacções violentas despropositadas, que ajudam a gerar a violência a que assistimos hoje nos estádios à mínima provocação - ou mesmo sem ela.
Sinceramente, acham que a indignação portuguesa vai tirar o sono à Pepsi internacional? Que o mercado português tem assim tanta importância? Que se estão a ralar para quem diz que nunca mais vai beber Pepsi? Claro que isso é importante, mas para a subsidiária portuguesa que comercializa o produto internamente. 
Se até a coca cola ponderou (e ainda não está afastada de todo) a ideia de deslocalizar o engarrafamento para Espanha para racionalizar meios...
Bom-senso, pede-se. E é a palavra chave.
Dito isto, parabéns à selecção portuguesa. E nota negativa ao mau gosto dos publicitários suecos. Também os há por cá do mesmo calibre com anúncios a apelar à violência e ao "bullying", como os da "Danup não é para chatos".
E agora, que já leram isto, talvez queiram ir a correr fazer um "padrão" com o emblema da FPF e a imagem do CR para substituir aqueles que os nossos navegadores, e pasme-se, nem jogavam à bola, espalharam pelo mundo.

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